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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

TALHADOS NO TEMPO


Das mãos, cheias de calos,
floresce a história do seu trabalho.
Escorre-lhe o suor sagrado
dos dias talhados no tempo.

No rosto, cheio de marcas,
sinais das batalhas de outrora.
Não como estas de agora
que a compreensão ignora,
mas como já fizera antes
nos tempos de tantas amantes.

Da voz, já quase inaudível,
ouve-se palavras amigas,
embora um tanto sofridas
pelas quedas da vida.

No peito, cheio de compaixão,
um coração ressoa vacilante.
Não como ressoava antes,
nos tempos de tantas amantes,
mas como ressoa agora
o coração vacilante.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ESVAZIAR-SE


Na contra-mão das palavras
ouvidas no tempo,
do vento das letras
em páginas - amareladas -
da vida, percebo 
enfim
o que é a Morte

E me apaixono inteiramente

pelo seu ato de desapego,
de livrar-se 
de qualquer 
dor
de qualquer 
desamor,
de qualquer
amargor

Lançar-se plenamente

no vazio 
do in-sentimento
e esvaziar-se
da água - suja -
da vida.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

ICARUS



Eis que de tanto sonhar
em voar, tornei-me pó-
             eta
Criei asas
nada-
de-
iras
Entrei para a classe seleta
das chocadeiras
dos ovos
de ouro

E nos des-
dobra-
mentos
— da escrita —
Choquei tesouros!

Como Ícaro,
alço voo 
com asas de cera

Como ver(-)me
as asas derretem
ao tocar na fogueira.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O SOLDADO



Uma neblina láctea e densa cobria as ruas do vilarejo
Na rua, ainda escura, dormiam bêbados e cachorros
Ninguém mais nas calçadas, nem nos morros
Só o silêncio noturno o acompanhava, e o desejo

A roupa ainda úmida da noite fria e chuvosa
Grudava na pele quente, áspera e febril
No peito, o aperto do dever civil
Do descumprir da lei asquerosa

Fora chamado para o alistamento
Naquele amanhecer, naquele momento
Não haveria como recusar

Poderia fugir para um lugar distante
Mas não teria paz um sequer instante
Teve, forçosamente, que se alistar.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A CRIATURA


Vi-a pelos becos escuros da madrugada
Vagando por toda a cidade dardejante
Sob a luz pálida de uma lua minguante
Não era homem, não era bicho, não era nada!

Foi numa noite erma e gelada
Debruçado no batente da janela
Sem saber, fiquei ali, à espera
Vi a coisa se arrastando na calçada

Na esquina, armavam-lhe uma emboscada
Era a noite marcada para sua captura
Com lanças, redes e armaduras
Dez homens não valeram de nada

A coisa arrancou-lhes os corações com uma guinada
Caíram todos ao chão com peito aberto
Para onde foi tal criatura, não sei ao certo
A rua tornou-se rubra: ensanguentada

De resto, não sei mais nada
Não me aproximo mais daquela janela
Mas bem sei que homem não era
Quiçá uma alma penada!

E quando deito nestas noites enluaradas
Ouço ainda os corações a palpitar
Na rua, uma brisa gélida toma conta do ar
Anunciando sua presença indesejada.

© Girotto Brito

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

MANHÃS DA INFÂNCIA



Alvoreceu — lá, no alto do morro
As gotas do orvalho vestem as campinas
No céu, inertes nuvens cinzas
A sombrear a estradinha que percorro

Aqueço as mãos com um sopro longo e quente
Cubro as orelhas com um velho gorro
Não posso atrasar, apresso o passo e corro
Um dia qualquer para uma alma penitente

Do alto da ponte um rio transbordante
Água corrente, límpida, cintilante
Natureza morta que vida transborda

Alvoreceu — numa manhã qualquer de inverno
Nos campos de minha infância, eterno
Habitante da memória de um ser do agora.

© Girotto Brito

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Onde verdadeiramente habitamos...




A solidão, o sofrimento, a angústia, a fúria e a loucura muitas vezes constroem um imenso labirinto dentro de nós. Um labirinto de autoconhecimento e ao mesmo tempo de autodestruição. Um emaranhado de redes cognitivas e sentimentais do qual com muita sorte apenas é possível escapar, no entanto, jamais sem marcas.

O poema a seguir trata subjetivamente disso: do mergulho profundo que fazemos em nós mesmos em momentos de isolamento e depressão, do quanto isso pode ser destrutivo e ainda assim construtivo. 


MERGULHO ARDIL
  
I

Morei
Morei noites e dias
Invernos e invernos
Naquele quarto úmido

Experimentei horas a fio
A angústia da solidão
E o furor sombrio
Daquele meio túmido

Fui o mais vivo dos cadáveres
E naquele inverno ardente
Comi o pão do inferno,
Bebi a dor em cálice

Nas ermas e infindáveis noites
Torturei-me em devaneio
Rasguei a carne com açoite
Dilacerei-me quase por inteiro

Estranha alma humana
Atormentada por Ser tão vil
Pela própria essência sucumbe,
Abraça um desespero frio.


II

Salvei
Salvei a mim e a mim
Outonos e outonos
Naquele quarto-sepulcro

Enxerguei a vida na escuridão
E acendi um tímido pavio
Iluminei toda abstenção
E a luz se tornou meu fulcro

Senti-me o mais vivo dos mortais
E daquela gélida penumbra
— já quase uma lápide —
Livrei-me dos pensamentos abissais

As ermas e infindáveis noites
Tornaram-se manhãs nubladas
Ainda desagradáveis, confesso
Porém, forçosamente suportáveis

Estranha alma humana
Que busca forças no âmago febril
Pela própria essência renasce,
Derrota mesmo um Ser hostil.


III

O pensamento é um mergulho ardil
Um nado na escuridão de nós
No covil onde nos encontramos sós

Lá, onde verdadeiramente habitamos
Onde nos tornamos ódio e furor
Lá, o ópio é a dor

Eis que ainda estamos vivos
Então respiremos, respiremos,
Ou em nós nos afogaremos.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Algumas mulheres...

Se você é homem, vai entender perfeitamente o que essa postagem descreve. Senão, vais inevitavelmente pensar se também faz parte desse seleto grupo de mulheres.
Algumas mulheres parecem possuir uma magia ancestral adquirida sabe Deus como, que lhe permitem enfeitiçar sem qualquer varinha ou poções do amor. Basta um olhar, um sorriso, uma leve e despretensiosa mexida no cabelo para deixar qualquer observador embriagado de tanta graciosidade. E estas, somente estas mulheres das quais me refiro, são absolutamente conscientes do seu poder de sedução.
Algumas mulheres são verdadeiras Judites, a envolver os Holofernes dos tempos modernos. Usam de artimanhas do discurso e artifícios da beleza para nos dobrarem. São anjos revestidos de demônios, ou demônios travestidos de criaturas angelicais. Tanto faz.
Algumas mulheres, ou talvez todas as mulheres sejam assim. Basta que saibam disso.

{ Texto e ilustração de Girotto Brito }

segunda-feira, 29 de junho de 2015

ESTRÉIA: Nossa poesia é sopro-antídoto!


Saudações, queridos leitores e colaboradores deste blog!

Hoje saí exausto do trabalho, cansado mesmo, com mil e uma questões preocupando-me a mente anuviada e um sentimento de vazio que me parecia devorar o âmago. Passei aqui por perto e, de súbito, avisto uma plaquinha com um desenho peculiar: a lua enamorando a noite. “Olha, um bar!”, pensei. Nada melhor para des(anu)viar a cabeça de um poeta.

Sim, meus amigos: sou poeta!

Nasci poeta, como todos os homens e mulheres, mas há pouco tempo consegui curar a doenças dos meus olhos que não me deixavam enxergar a poesia. E nem digo toda a poesia, mas a poesia em essência, apenas. A poesia das ruas, dos becos, das salas de estar, dos fogões de lenha, das encostas sombreadas, dos campinhos de futebol de terra batida, dos namoros da adolescência, dos odores das refeições e das flores, das risadas espontâneas, dos carinhos desinteressados e do sopro diário de vida que nos é presenteado.

domingo, 12 de abril de 2015

Vida, viaja vadia

Olá queridos,
Eu também sou um ir e vir...

Estou voltando!


Vida que nos aproxima
Como o mar beija a areia
Volta e vem
E vai e vem

A flor, esquecida na praia
 Arrastada pela forte correnteza
Conhece as profundezas do oceano
E a força da marés
Ela faz parte do todo 
E nada teme
...vai, sem resistência!


Resultado de imagem para profundezas do mar

segunda-feira, 16 de março de 2015

Petrópolis, esperança que te quero verde

Bom dia, amados
Estou atrasada com a publicação, que é agendada para zero hora das segundas...mas cheguei!
Hoje, 16 de março, é aniversário de minha cidade, Petrópolis.  Em homenagem a essa joia, vai o poema. É de 2012 e parece que foi ontem...parabéns!



Minha terra
De caminhos lapidados como em mina de esmeraldas
Minha serra
Onde a cada agosto cantam os sabiás até dezembro
E o verde é  nosso Imperador
Onde as velhas e "craqueladas" árvores
Silenciosamente respiram
E nós, quase alheios a elas
Esquecendo de tamanha majestade
Não fazemos reverência alguma

As flores da minha amada terra
São as mais belas que existem
As árvores da minha serra
Apesar dos pesares, resistem

...e o cartão,
o que tem com isso?
Já foi árvore um dia
Há muitíssimo tempo atrás
Me passaram como legado!
E com todo o respeito
Guardo a vida comigo.

Sandra May



Foto autoral

Uma semana cheia de poesia e paz pra todos nós...bjs!

segunda-feira, 9 de março de 2015

Desafio

Olá.
Que bom é estar com vocês novamente...
Bora ao post de hoje, que é inédito.


Paixão é sede
Sentir sede
Muita sede 
É encontrar uma fonte
Pra em seguida descobrir
Que as águas são das fontes de Mara

Paixão é beber dessa fonte
Beber mais uma vez
Insistir num talvez
Assim aumentando a sede

E, o desafio de abandonar Mara
Sair em busca de fonte salutar
Se distancia pela altivez
Quase sempre se faz tara

Cega, surda e muda
A paixão não dá sossego
E a gente exclama numa súplica:
"Deixa eu ficar Odara."

Sandra May-2015






segunda-feira, 2 de março de 2015

Opala

Bom dia, peço desculpas pelo atraso da postagem...acabou saindo!



Faz de conta que deu certo
E soma
Não suma
Faz de conta
Que a minha mão
Esta colada a tua
E una
Arruma
Dá um jeito
faz um laço
Papel presente
Me acolhe em teu peito
"Quem cala consente"
Manda um pedaço de bolo, uma bala
E inteiro, o abraço
Sem fragmentos ou pontas
De bem aparadas arestas
Colorido mineral
Opala!

Sandra May

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Amarelinho

Olá frequentadores do Boteco,

Hoje trouxe um poema bem leve, até eu me surpreendi...quase infantil!
Mas, eu juro que escrevi.
Observando o sol, assim concluí:

Amarelinho

Pano de fundo azul clarinho
Palco e cenário pro sol
De todas as cores, A m a r e l i n h o
Alongado em pernas e braços
Tem pretensão de abraçar o mundo...rs
Nem ele consegue, " tadinho! "
Uma parte de cada vez
Enquanto aqui amanhece
No lado oposto, anoitece
Hmm! Pensando melhor
Onipresente sim, ele é
Faz noite...

Ainda que tendo a lua como um muro
Jamais se dá por vencido
Não permite o total escuro
Brilha, O oferecido.

Sandra May/2015





Fotos autorais


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Madrugada

É no silêncio das luzes apagadas
Quando dou espaço pro nada
Que ouço meu coração dizer:
"Pulso, pulso, pulso
Pulso pra você sobreviver"
Não desista
Feche a porta
Feche as janelas
Desligue a TV
Não deixe entrar na sua casa
Os cadáveres dos degolados
Os homens mal intencionados
As luxuriosas aparências

Vida, se constrói do nada
Do pó surge e ao pó retorna
Mantenha a casa bem fechada
Entrega ao bom anjo o sono
Repousa, é madrugada!

Sandra May 




foto autoral

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Santa Terra ou Quase despedida de carnaval

Olá povo do Boteco, tudo bem?
Porque o carnaval tá chegando...vamos ver o que me lembrei sobre o tema?
Faz um bom tempo, caminhava e era segunda-feira de carnaval. Tinha  muitas flores caídas na calçada e me lembrei de um poema de Carlos Drummond de Andrade


No meio do caminho tinha uma flor
Tinha uma flor no meio do meu caminho
Uma não, muitas, muitíssimas flores
Havia no meio do caminho

Lilases, amarelas e brancas
Vermelhas, alaranjadas e roxas
As flores, de vários tons
Intercalando tapetes tropicais
Enfeitaram ruas e calçadas
Só pra me ver desfilar

Caminhando sorridente entre aplausos eu segui
Bamboleante...
Alguém assoviou aqui
Um outro alguém chamou meu nome lá
Devaneei...

Quase atropelada, a  cadencia corrigi

Santa Terra
De água e sol
De doce e sal
E, apesar dos pesares
Sem flores do mal
Em terça-feira de carnaval

Sobrevivi!

Sandra May/2015








domingo, 1 de fevereiro de 2015

Onde fica Pasárgada?

Olá amigos do Boteco... aqui a gente ri, chora, joga conversa fora e muito mais. Inventamos também estórias e se você gostou ou não, deixe seu comentário. Participe, pois afinal, você também frequenta "Boteco de Blogueiros"
Salve salve!


O que me consola
É pensar em Pasárgada
Vou me embora pra Pasárgada
Pois lá é o meu lugar
Quando o coração aperta
Aperta pra valer
E o nó na garganta
Não impede o rolar de uma lágrima
Ou de muitas águas
Não sei onde fica Pasárgada
Só sei que estou indo pra lá
O meu lugar, uma floresta densa
Quase fechada
Só dá pra ver um pouco do céu
O suficiente
Nela tenho quase tudo que preciso
Mas, às vezes sinto medo, muito medo
Reconheço minha solidão
E penso em gritar por ajuda
Inútil
Ninguém me ouviria
Então deito na relva úmida e quente
Aspiro o cheiro do verde
Cravo meus olhos no azul
Estou conectada com a vida
Viva a vida!
Agora, acontece o que ninguém acredita
Sou metamorfose
Meus braços se alongam em facas e foices
E mais uma vez abro caminhos......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................
Onde parecia impossível!
Sandra May




Desejo uma excelente semana aos amigos e até segunda próxima.
Beijos, beijos e mais beijos.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Caixa de Pandora



De tanta repetição
Minha prece já se converteu em reza
E minha oração
Arrastada ladainha
De vela queimando mão
...segue seu ritmo

Estranha canção !

Feito beata velha
Pano na cabeça, rosário na mão
Prossigo insistindo
E tal como idólatra
Clamo a estrela real:

"Sol, fonte de todas as cores
Eu, só tenho o meu sonhar
Não me leve a esperança
Como em Caixa de Pandora...
Deixa meu verde ficar?"

Sandra May




segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Águia

Olá gente, tudo bem?

Hoje e todo dia, é dia de poesia...


Em lençóis de voil

Do mais puro azul

Plana ela

Feito em águas mansas

Caravela

Pouco vento

Leve arrepio

"Na dela"

Sandra May



Não é um ponto de sujeira na sua tela, não...é ela !

Beijos, uma excelente semana pra todos...!