sexta-feira, 24 de julho de 2015

Wanda

Wanda era alta, esbelta, seu corpo uma escultura e sua boca carnuda estava sempre pintada de vermelho.  Embora fosse muito jovem, ela continha segredos de uma mulher madura. Divertida, alegre e incrivelmente fogosa exalava sexo pelos poros e contagiava os ambientes por onde passava. Ela era inteligentíssima, de raciocínio rápido e de grande personalidade. De família rica, mas ignorando os valores familiares, ela trabalhava de dançarina na boate Lua Doce.
Carlos, igualmente jovem, forte, inteligente, frequentador assíduo da boate onde Wanda trabalhava, era totalmente apaixonado por ela. Também de família nobre, sua paixão por Wanda fazia com que abdicasse das rodas da alta sociedade para vê-la dançar todas as noites.
Wanda dançava como ninguém. Ela era única. A plateia ignorava todas as outras dançarinas esperando ansiosamente pelo seu show. Não menos ansioso, Carlos olhava o relógio muitas vezes na esperança de que o tempo passasse mais depressa para ver sua musa.
Ela tinha apenas duas paixões: a dança e o sexo. Alimentava estas paixões exibindo seu corpo exuberante e entregando-se ao homem que escolhia nas noites de espetáculo. Foram muitos, mas ao contrário das prostitutas, Wanda não fazia por dinheiro, e sim, por prazer.  Ela os encantava, os dominava, os trazia debaixo de seu salto. Eles pareciam gostar daquele domínio irresistível, que lhes dava sexo, mas nunca amor.
Ela tinha um padrão. Escolhia os homens pelo olhar. Aquele que tivesse o olhar mais faminto, o que fazia com que ela se sentisse mais desejada, era o requisitado, mas nunca repetia os escolhidos.
Wanda não queria dinheiro, e sim ser a melhor entre as melhores.
Carlos ficava na esperança de ser o escolhido, mas algo nele a desagradava. Ele não tinha aquele olhar faminto dos outros homens e sim um brilho diferente que a repelia ao mesmo tempo em que a atraía.
Como a atração foi mais forte, um dia ela o escolheu, e para ele se entregou naquela noite. O receio que ela tinha se concretizou. Viu que aquela vez foi diferente, pois mesmo sempre sendo ela a dominadora, se sentiu dominada, mas não por ele, que estava totalmente entregue à paixão, e sim por ela mesma. Foi um sentimento jamais percebido e entendeu que este poderia ser um problema. Wanda não queria se apaixonar, não queria compromisso, e sim continuar vivendo ardentemente cada dia. Entretanto, o desejo de ver Carlos novamente era constante.
Wanda não dançava mais como antes, a plateia já não lhe era mais fiel, mas Carlos estava sempre ali a cercando. Ele enviava-lhe flores, doces, convites para sair.  Apesar de rejeitar, ela não parava de pensar nele e não conseguia mais se entregar ao prazer com outros homens, embora tentasse. Foi então que a “Lenda Wanda” da Lua Doce perdeu o encanto e com isto acabou o seu feitiço sobre os homens .
O público já não queria saber dela e o proprietário a mandou embora. Ela caiu em depressão. Não precisava de dinheiro, e sim de continuar sendo a melhor no que amava fazer.
Com o sumiço de Wanda, não tão menos desesperado ficou Carlos que procurou sua amada em todas as boates.
O tempo passou, Carlos se conformou, mas não a esqueceu. Wanda continuava viva em sua memória.
Algum tempo depois, Carlos em um show do cruzeiro que estava fazendo, se surpreendeu. Uma banda tocando salsa tinha uma dançarina que lhe chamou a atenção. Suas pernas, a boca, o cabelo, a pele e o corpo muito lembravam sua amada. Não poderia ter duas mulheres assim no mundo, não para ele. Só podia ser ela. Então ele se aproximou para ver de perto e constatou. Era ela! Não dançava mais como na Lua Doce. Evidentemente que a música, a dança e o ambiente não eram os mesmos, mas ela não tinha o mesmo brilho embora a plateia adorasse. Ali, somente Carlos sabia como era antes. Porém, ela continuava bela. Carlos com a palpitação mais forte se aproximou do palco e ela o viu.
Trocaram sorrisos. O brilho dela voltou e ela deu um show ainda maior.
Naquela noite entregou-se a Carlos novamente, mas desta vez sabia que não seria a última. Após o reencontro, Wanda só dançou para Carlos e hoje somente ele lembra daquela mulher admirável e cheia de encantos, que fascinava a todos com sua exuberância, autonomia e liberdade.
Wanda perdeu-se no tempo, deixou-se levar pelo cotidiano de uma mulher comum descendo do seu pedestal de Deusa suprema, mas viveu feliz ao lado de seu único amor.

2 comentários:

  1. Boa tarde, Claudio, a Wanda do seu conto não viveu o amor até encontrar o olhar de Carlos.O amor é tudo no mundo. Só o amor é real. Mulher fascinante, sedutora, amante..... e que hoje é feliz por amar e seduzir seu homem. Gostei muitíssimo!. Abraço!

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