sábado, 11 de outubro de 2014

Maria




Chovia quando ela apontou no começo da rua com seu guarda chuva azul. Cabelos escuros dançando na melodia do vento que atrevido jogava pra cima a barra daquele vestido rodado, deixando à mostra as coxas grossas e brancas como algodão. Passos apressados e pés que marcavam o ritmo nos paralelepípedos úmidos. Ela era cor contra o chumbo do céu, calor contra o frio do dia, era riso incontido em lábios ressecados pela solidão.

        Esqueci-me do trago, do gole, perdi-me no tempo pra vê-la passar. Ela era uma obra de arte desfilando num dia de chuva. Era a poesia que os poetas morriam a procurar. Entoei versinhos infantis de quem não conhece as rimas ou as palavras, mas sente n’alma a doçura do encanto e da simplicidade.


      A rua estreita e torta virou Avenida pra Maria passar e ela passou. Passou levando consigo meu olhar. Despertando desejos amenos e suspiros distraídos. Foi breve como um raio de sol em meio à tempestade. Deixou uma esperança recém criada até se encobrir novamente entre as nuvens do caminho. Como uma pipa colorida vacilando na imensidão celeste. Virou a esquina deixando a imaginação de um cheiro doce como as mangueiras que florescem no mês de setembro. Foi embora quebrando a solidão dos dias tristes e plantando em meus lábios nos meus lábios um pedido: que o vento a traga pra mim. 


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