domingo, 8 de junho de 2014

Uma Lição de Gabriel Garcia Marquez, de Aline Tompson

A convidada desta semana é a ilustre Aline Thompson, 21 anos, carioca, estudante de Psicologia e torcedora fiel do Fluminense. É autora do O Diário Thompson, que começou como um diário virtual e se tornou blog pessoal, onde ela gosta muito de arrepiar a espinha dos seus leitores com estórias de terror, gênero pelo qual é muito fã, especialmente de Stephen King.

Quando meu amigo Claudio Chamum me convidou para escrever algo para o “Boteco dos Blogueiros” fiquei muito lisonjeada e feliz com o convite! Resolvi, então, visitar o site, pensando sobre o que eu poderia escrever. Ao visitar o boteco eu me deparei com uma resenha sobre “A Menina que Roubava Livros” e algo nesse post me chamou muito a atenção! A informação de que o livro coqueluche do momento esteja entre os mais abandonados do Skoob (que mais pessoas desistiram antes de terminar de ler). Uma vez que imagino que esse boteco é frequentado por muitos contadores de histórias, considerei que um assunto interessante para uma gostosa conversa de boteco entre blogueiros seja:

“Uma Lição de Gabriel Garcia Marquez” 
 Sobre como cativar o leitor desde a primeira página.

“Como prender a atenção do leitor, fazendo com que não desista do livro antes de terminar?”.

Pensando sobre livros que nos prendem desde a primeira página, me lembrei de que recentemente tivemos a inestimável perda do convívio com um dos contadores de histórias mais admirados e traduzidos do mundo, considerado um dos autores mais importantes do século XX! Estou falando do colombiano Gabo – que algumas pessoas estranhamente chamam de Gabriel Garcia Márquez.

Como a maioria dos neófitos em Gabo, comecei com “Cem Anos de Solidão” e me apaixonei pelo livro logo nas primeiras páginas. Como era difícil fechar aquele livro e as 448 páginas passaram voando! (Se acaso você ainda não visitou Macondo – aldeia fictícia onde se passa a história do livro – a dica é: Faça uma árvore genealógica da família Buendía - Iguarán).
As histórias de Gabo são como os sonhos, onde não há absurdo, tudo pode acontecer, como, por exemplo, uma cidade pode ser inundada por luz ao invés de água (acontece em um dos “Doze Contos Peregrinos”). Gabo nos envolve com essa realidade mágica!  Como ele nos deixou justamente durante a Semana Santa passada próxima, eu comecei a imaginar se não aconteceria, como em seus livros, algo fantástico, e ele ressuscitaria no Domingo de Páscoa!

Enfim, imaginei que Gabo deveria ter algo para ajudar a responder à nossa pergunta!
O que nos leva ao segundo livro dele que eu li: “O Amor nos Tempos do Cólera”. Passado no século XIX com cenário na América Latina, conta a história do amor de Florentino por Firmina! Acontece que nesse livro há um refugiado antilhano, inválido de guerra e fotógrafo de crianças, que não queria ficar velho, de nome Jeremiah de Saint-Amour, que para a tristeza dos leitores, desaparece muito prematuramente do romance!

Ao responder sobre o porquê desse desaparecimento prematuro de Jeremiah de Saint-Amour, Gabo nos deixa uma bela lição de como prender o leitor!

Eis a resposta de Gabo:

Esta é a pergunta que mais ouvi, dos leitores sobre “O Amor nos Tempos do Cólera”: Por que o personagem Jeremiah de Saint-Amour desaparece das páginas do livro, tão cedo? Nunca me demorei muito pensando nas respostas, e cada vez me divirto em inventar uma nova. Hoje quero fazer um esforço sobrenatural para responder com a verdade.

Sinceramente: sempre acreditei que uma novela, um romance, ou até mesmo um conto, devem agarrar o leitor pelo colo desde a primeira linha, como conseguiu Franz Kafka com sua máxima maior: “Aquela manhã, ao término de um sono agitado, Gregório Samsa despertou convertido num monstruoso inseto”. Meu problema era que o amor de Florentino Azira e Fermina Daza – protagonistas centrais da novela – tinha que ser eterno e parcimonioso, e corria o risco que os leitores mais acelerados, não suportassem a espera de quarenta páginas massantes, em que ninguém se apaixonaria por ninguém. Ali, iniciaria a novela de verdade, a qual eu queria escrever com toda alma, aquela dos amores contrariados dos meus pais (Nota: a história real dos pais de Gabo foi o ponto de partida do livro), mas necessitava do fio invisível de um personagem que levasse o leitor até onde quisesse. A solução, que pensei, era criar um caráter fulminante e impositivo que surpreendesse o leitor desde a primeira linha, e o levasse são e salvo até que os amores dos protagonistas tivessem domínio próprio.

(Leia a tradução completa do artigo “O personagem equívoco de Gabriel García Márquez” em Usina das Letras)

Domingo de Páscoa apanho um ônibus. Sem encontrar um assento vago, viajo de pé e eis que percebo que um senhor no banco em frente a mim está lendo as primeiras páginas de “Cem Anos de Solidão” – Era Gabo ressuscitando e contando uma história!

“Ei, moço! Faça uma árvore genealógica da família! São sete gerações!”.


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4 comentários:

  1. Estou escrevendo meu primeiro romance e tenho perdido muitas noites de sono tentando encontrar a melhor forma de prender o leitor à estória. É uma tarefa árdua e nem sempre obtemos sucesso. Por isso, tenho lido alguns autores que são/foram especialistas nisso: Gabriel G. Márquez, Ernest Hemingway, Dan Brown, entre outros. Um ótimo texto e muito útil.

    O POETA E A MADRUGADA
    opoetaeamadrugada.blogspot.com

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  2. Oieee... Mande as perguntas da entrevista para contato@rosachiclets.com.br

    Bjs – Su
    www.rosachiclets.com.br

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  3. OI CLAUDIO!
    AGRADEÇO TEUS COMENTÁRIOS SEMPRE GENTIS LÁ NO "SÓ PRA DIZER"E, RESPONDENDO A TUA PERGUNTA, CLARO QUE POSSO PARTICIPAR, SÓ ME DIGA COMO.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  4. Boa noite Claudio e Aline! Parabéns pela matéria bem escrita, para quem pretende escrever um livro, ficou aqui uma boa aula...Cem Anos de Solidão é um dos meu preferidos, li esse livro há uns 30 anos atrás e já reli outras tantas vezes. Gabriel Garcia Marques, sabe como prender o leitor, O Amor nos Tempos do Cólera é outro que nos prende do começo ao fim.
    Gostei de estar aqui e ler sobre esse assunto.
    Beijos
    Marilene

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