quarta-feira, 9 de abril de 2014

Ela (Her) - 2013 - EUA

Olá visitantes do Boteco, sou Marília Tasso, autora do blog Pitada de Cinema, toda quarta-feira irei escrever sobre filmes de qualidade mundo afora e expor minhas percepções, reflexões e sensações que a sétima arte é capaz de promover. A ideia é compartilhar cinema de bom gosto! Fiquem à vontade para se sentar à mesa e bater um papo descontraído.
Para a estreia do blog escolhi o filme "Her" de Spike Jonze, o post original se encontra em meu blog: Ela (Her)

"Her" de Spike Jonze (Onde Vivem os Monstros - 2010) é um filme interessantíssimo e muito atual, todos deveriam assisti-lo, afinal quem hoje em dia não está conectado? Ele retrata a solidão e o amor em meio a toda essa tecnologia que nos rodeia. 
Em um futuro bem próximo Theodore (Joaquin Phoenix) trabalha escrevendo cartas de amor. Ele dita enquanto o computador as transforma em bilhetes manuscritos. Theodore é um cara melancólico, solitário, mas não chega a ser antissocial, sua personalidade é até cativante. Sua rotina se resume a trabalhar, aliás ele tem uma sensibilidade incrível na elaboração de suas cartas, raramente sai com alguns amigos, tenta alguns encontros, e joga videogame em seu apartamento, melhor dizendo, interage com o videogame. O filme retrata as facilidades que a tecnologia oferece, principalmente quando Theodore adquire um sistema operacional com inteligência artificial.
O OS se chama Samantha, a voz de Scarlett Johansson passa todas as emoções possíveis, é doce, sensual e tem um humor leve que encanta. Os diálogos entre eles são mais como bate-papos descontraídos, é como se ele estivesse conversando com uma pessoa ao seu lado. Essa personalidade humana de Samantha com mais os atributos de uma máquina faz com que Theodore se apaixone, essa relação vai se tornando forte dia a dia, e o que pode parecer estranho a princípio se torna numa coisa natural. Theodore não desgruda de seu celular e mostra tudo para Samantha, ela por sua vez se deslumbra com o mundo e consequentemente por sua própria evolução.
Theodore recebe uma injeção de ânimo, ele sorri diante as exclamações de Samantha. Isso me faz lembrar o quanto esquecemos de prestar atenção nas pequenas belezas que passam todos os dias em frente a nossos olhos. A rotina e o estresse não deixam que as vejamos, e assim nos tornamos pessoas chatas e tristes. A maioria se afunda em seu próprio mundo e mesmo que esteja rodeada de mais pessoas, não significa nada. É um vazio que não se preenche. Theodore parece preencher o seu vazio e amenizar a melancolia que sente ao se relacionar com seu OS, o seu passado, o casamento que vive a assombrar seus pensamentos vão se dissipando aos poucos, os momentos dele com sua ex-mulher (Rooney Mara) são mostrados em flashes como memórias soltas, é um lindo contraponto com o teor da história. Enquanto há contato físico, troca de olhares em seu passado, no futuro há somente distância e solidão.

Há o quesito perfeição, Samantha dá comodidade, não há questões banais envolvidas, é tudo muito prático e rápido, ela organiza, seleciona e sabe exatamente as preferências de Theodore. As facilidades que a tecnologia oferece é grande e isso faz com que cada vez nos mexamos menos, se o computador faz tudo, o que nos resta? Isso apesar de incrível emburrece as pessoas, não existe criatividade se tudo é feito para você.
"Her" é um filme que faz com que os pensamentos se expandam, há diversos aspectos para expor, como o conforto e a comodidade da tecnologia, e as relações que estão se tornando distantes, já não há o fator compreensão, se há algo que não te agrada na pessoa, simplesmente você a exclui, como se fosse numa rede social. Esquece que somos seres complexos, dotados de personalidades distintas. Outra coisa a se pensar é no quanto de informações captamos, não dá para guardar tudo que vemos na internet como Samantha, é tudo mastigado e momentâneo. E nas redes sociais todos estão preocupados em ter quantidade, mostrar o seu melhor, fingir, e isso tudo para quê? Essa é uma ilusão que destrói.
Theodore compartilha belos momentos com Samantha, diálogos, curiosidades, declarações e até sexo, a sua personalidade se desenvolve de maneira tão complexa quanto a de um humano e consequentemente ele se sente atraído. São cenas que contém uma leveza e serenidade, Joaquin Phoenix está magnífico e dá credibilidade a seu personagem, são emoções expostas através de seus lindos olhos.

A perfeição não existe, a plenitude está em se aceitar como se é, e não achar que existe uma felicidade permanente, a plenitude pode estar na tristeza, ou em qualquer outra emoção, é precisamente quando nos damos conta de si mesmos e aceitamos que assim deve ser. Errar faz parte, o maior medo das pessoas é a falha, os relacionamentos minguam porque você oferece algo que não existe, o tempo passa e não dá para sustentar uma mentira. A melhor coisa do mundo é compartilhar o que somos e o que pensamos com alguém que amamos. Isso é viver! Acredito que uma grande parte da humanidade desaprendeu e seguem como zumbis, assim acabam se escondendo em seus pequenos mundinhos virtuais. A imagem mais comum hoje em dia é de pessoas com a cabeça baixa mexendo em seus celulares, são casais, grupos de amigos, todos separados pela tecnologia. A vida virtual se tornou muito mais interessante. "Her" tem uma amplidão maravilhosa, gera pensamentos atrás de pensamentos sobre a sociedade atual e como ela lida com a tecnologia. 
A personagem de Amy Adams, amiga de Theodore que também se apega ao seu OS, diz que se apaixonar é uma coisa maluca, uma forma de insanidade aceita pelo meio, isso pode parecer filosofia barata, mas é bem por aí, nos apaixonamos por reflexos de nós mesmos, e o mais bizarro é que nos apaixonamos com num estalo, basta alguém reproduzir características semelhantes a nossa. 

Spike Jonze nos presenteia com uma história muito atual, cheia de nuances que mistura drama, romance, comédia e ficção científica. Joaquin Phoenix faz um personagem adorável, capaz de transmitir a realidade da situação apenas com seu semblante, é impressionante a naturalidade dele em dizer que namora um OS. É graças a ele que a voz de Scarlett Johansson está perfeita, pois ela se espelha nas reações e diálogos de Theodore.
"Às vezes acho que já senti tudo que deveria, e que, a partir de agora, não sentirei nada de novo, apenas versões menores do que já senti". Entre tantas frases do filme esta é uma das mais interessantes. A insatisfação é um outro sintoma da atualidade, essa rapidez com que tudo flui parece que nada que vier fará tanto sentido. 
É só assistindo para ter a exata noção do que o filme quer passar, são questões que permeiam a nossa vida e que assustam cada vez mais, é imensamente válido porque após assistido inúmeros pensamentos surgem, ele nos estimula a refletir sobre a solidão e o poder que a tecnologia exerce sobre nós. É um assunto muito abrangente, por isso, assista!

7 comentários:

  1. Nossa, essa resenha do filme me deixou muito curioso! Vou procurar para assistir, parece ser realmente bom. Gosto muito de filmes de ficção, principalmente quando trazem essa cargar de reflexão. A inteligência artificial está se desenvolvendo rapidamente e eu creio que em 100 anos ou menos já teremos computadores capazes de aprender e interagir conosco como seres humanos. Isso é fascinante, mas ao mesmo tempo assustador.

    O POETA E A MADRUGADA
    opoetaeamadrugada.blogspot.com

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  2. Muito interessante este filme.
    Eu que vê-lo.
    A resenha é completa e incentivadora;
    Parabéns Marília.

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  3. Adorei estar aqui e ler tão rica resenha, aguçou minha curiosidade e assim que possível vou assistir ao filme.Parabéns!
    Abraços
    Marilene

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  4. Marília,
    Esse é um dos filmes que quero assistir. Achei o trailler desse filme.
    Vou procurar para assistir porque gostei muito mesmo.

    Beijos e Sucesso

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